segunda-feira, 19 de outubro de 2015

               
CALAFATES DE GANDRA NA RIBEIRA DAS NAUS.

Gandra é, de entre as freguesias do nosso concelho, uma das que mais esteve ligada à indústria da construção naval , não só a que desde os finais do séc. XIV se instalara na foz do Cávado mas também à dos dois grandes centros nacionais, a Ribeira das Naus, em Lisboa e a Ribeira do Ouro, no Porto. Certamente pela sua proximidade aos estaleiros de Esposende e de Fão, para onde os seus artífices tinham facilidade em se deslocar, Gandra contribuiu grandemente, ao longo dos séculos, com os seus especialistas, muitos deles formados ou “diplomados” nos dois grandes centros já citados.
Eximios carpinteiros navais, calafates e seus mestres, nos séculos XVIII, XIX e XX, eram de Gandra, aliás, na boa tradição dos seus antepassados, que já haviam dado sobejas provas do seu profissionalismo nesta importante arte. E ela continuou a ser importante para a própria localidade, pois, segundo um inquérito de âmbito socio-económico de 24 de Setembro de 1866, grande parte da população de Gandra dedicava-se à profissão de calafate [i]
Altamente protegida, esta arte mecânica era fulcral à nossa economia, porquanto todo o comércio marítimo dependia da boa construção e das condições de estanquicidade, “da quilha à borda” das embarcações e por isso, os seus artífices mais destacados, os Mestres ,tal como os dos carpinteiros navais, eram contemplados com “privilégios”, especificados nas Cartas de Alvará que remontam ao tempo de D. Fernando, mas que não raramente eram actualizados, nomeadamente no tocante a impostos, como os últimos, confirmados por D. Maria I.
Tais privilégios eram dados à Corporação, quando peticionados colectivamente, mas os Alvarás eram passados nominalmente com esses mesmos privilégios expressos, desde o primeiro até à última confirmação, que o interessado utilizava quando lhe era necessário, estivesse onde estivesse em território nacional.
É o caso de João Manuel., filho de Miguel Manuel e de Úrsula Gonçalves, de Gandra, mestre calafate da Ribeira das Naus e da Ribeira do Ouro, que em 11 de Abril de 1748, fez registar na Câmara Municipal de Esposende a Carta dos seus “privilégios” para se eximir ao cargo de juiz de sub-sino da sua freguesia – S. Martinho de Gandra - para o qual havia sido nomeado quando prestava serviço em Viana do Castelo, por ordem da El Rei, no calafeto de umas lanchas.[ii]
João Manuel, justificou assim, não poder ocupar tal cargo, pois a sua profissão exigia que estivesse “dia e noite” disponível para o serviço de El Rei.
O percurso de um oficial de calafate não era fácil e o de João Manuel começou, quando seu pai, Miguel utilizou o seu Alvará que lhe dava o direito de poder dar a mesma carreira aos filhos, carreira que também os isentava de ir à guerra.
Tudo começava com uma inscrição no curso...tal como fez João Manuel, que em 20 de Fevereiro de 1709, dirigiu uma petição ao Provedor da Casa da Índia para que lhe fosse passada uma Certidão de Matrícula, documento que foi exarado pelo Escrivão da Provedoria dos Armazéns da Guiné, Índia e Armadas de Sua Majestade onde consta que «a folhas cento e dezasseis do Livro donde se fazem as Escrituras aos oficiais de calafate da Ribeira das Naus, está feita uma, em cinco do corrente, pela qual se obrigou Miguel Manuel, oficial de calafate da Ribeira das Naus, a dar ensino do dito ofício, dentro de cinco anos a um seu moço, por nome João, filho de Miguel Manuel e de Úrsula Gonçalves, natural de S. Martinho de Gandra, Arcebispado de Braga e de idade de dezoito anos, cabelo preto e calvo, olhos pardos e cara grande e larga e acabado de lhe dar os ditos cinco anos lhe prometia ferramenta para trabalhar e um vestido ou três mil reis em dinheiro». [iii]
Miguel Manuel, o pai, tornou a utilizar o Privilégio, para o mesmo efeito e para um outro seu filho que tinha o mesmo nome que o seu.
Gandra, tinha nos princípios do Séc. XVIII, TRÊS MESTRES CALAFATES, a trabalhar na Ribeira das Naus! O pai e dois filhos O pa, Miguel Manuel já vinha exercendo aquela profissão, desde o século XVII. Naquela altura, para ser oficial de calafate, ou seja ser Mestre, tal como João Manuel pretendia, era preciso ter uma verdadeira “formatura” de cinco anos. Mas isto era em 20 de Fevereiro de 1709 ...
Outros se lhes seguiram, como Manuel Francisco do Paço, que foi vereador da Câmara Municipal, nos primeiros anos do Séc. XIX. Era também um calafate de renome, bem como seu neto Francisco do Paço, que acabou por se fixar em Esposende onde casou com senhora de uma família com negócios na construção naval.
Em 1856, o mestre calafate de Gandra, Manuel Gomes dos Santos «pediu escusa de ser encarregado de apresentar o S. Jorge nas quatro funções reais», quadro incluído nas festas do Corpus Christi.[iv]
José Francisco Alves, que trabalhou nos estaleiros de Fão ate 1906 e que depois da sua morte foi substituído por outro mestre, Bento Ferreira Brás, foram dos últimos grandes mestres calafates de Gandra.
Marinhas, Belinho e São Bartolomeu, tal como Fonte Boa, tiveram também muitos e bons executantes nesta profissão, que honraram a indústria da construção naval do concelho de Esposende, tendo alguns “passado” paras os estaleiros navais de Viana do Castelo e do Ouro, no Porto, a partir de 1947, quando, praticamente, acabaram os estaleiros da foz do Cávado.




[i] Neiva, Dr .Manuel Albino Penteado, in “O concelho de Esposende no séc. XIX” in Boletim Cultural de Esposende, nº 7/8 de Dezembro de 1985,pág.18.
[ii] Felgueiras, José – “Sete Séculos no Mar”- Edição do Forum Esposendense,2010.
[iii] AHCME – Registo do Privilégio dos Mestres Calafates concedidos a João Manuel da freguesia de Gandra, termo desta vila de Esposende-Livro de Registos de Privilégios -1748 (23 páginas).
[iv] Felgueiras, José – “Sete séculos no Mar” – Edição do Forum Esposendense,2010.
Abade de Fão – capitão de uma nau em 1438
                                                                          
                                                                                         Por : José Felgueiras

A pesca marítima foi uma actividade importantíssima para as gentes do território onde mais tarde se veio a constituir o concelho de Esposende, apesar da pesca fluvial ter tido também relevante significado no ponto de vista económico e alimentar, nomeadamente para as povoações ribeirinhas.
A pescaria do mar, desenvolvida logo após a independência do Condado Portucalense e depois de controlada a pirataria berberesca, foi, indubitavelmente, a verdadeira escola da experimentação da navegação oceânica onde os pescadores se exercitaram e se tornaram grandes marinheiros. Foi nesta actividade que aprenderam a conhecer o mar junto à costa ou mais ao largo, os seus fundos, as correntes e a dominância dos ventos.
Fão, com uma situação geográfica privilegiada, pois ficava na embocadura do Cávado, cedo se manifestou como centro de actividade piscatória antes de todas as outras localidades, incluindo Esposende. Rezam as Inquirições que Fão, já em 1220 tinha um pequeno núcleo de habitantes que se dedicava à pesca «illi qui vadunt piscari», mas existem outras fontes a provar, que desde muito cedo, gente de Fão ou a ela ligada, andou no alto mar, ocupando lugares de topo na hierarquia naval do tempo.
Portanto, não é de admirar que apareçam de vez em quando, referências a homens de Fão, que deixaram o seu nome ligado a feitos de relevância nacional, como é o caso presente.
Os fangueiros de antanho, foram excelentes executantes das artes de marinharia, a pontos de terem deixado o nome da sua terra ligado a uma “costura”de forma oval, ainda hoje empregada como encapeladura ou como componente de uma escada de corda a que deram o nome de «costura de Fam», também conhecida por «boca de lobo».
Por isso não é de admirar que, em determinadas circunstâncias, os grandes senhores da altura requisitassem os seus serviços ou os integrassem nas suas aventuras, fossem elas em terra ou no mar.
No entanto, pode parecer estranho o facto de estarmos a tratar aqui de um Padre que também era náutico; mas, a verdade é que não era assim tão raro, naquela época, vermos clérigos a comandar navios!
Como aparece então este nauta fangueiro, integrado na logística de uma viagem tão importante como imponente?
Embora «filho famílias», João Vicente, tal como os simples mortais da sua terra, teve logo na sua juventude os primeiros contactos com o rio e o mar costeiro que praticamente o cercavam; duas escolas onde, certamente, aprendeu os rudimentos da arte de navegar, aperfeiçoando-os depois no mar alto.
Filho de legítimo matrimónio, estudou e ordenou-se em Coimbra no ano de 1435,com «licencia sui superiores presentatus ad titulum sui patrimonii, examinandus per suum superiorem». E daí, para ser imediatamente “nomeado” abade da sua terra natal, que acabava de ser integrada no Condado de Barcelos, bastaria um pequeno sinal do seu poderoso Duque…
 João Vicente é contemporâneo da transferência de Fão da Jurisdição de Guimarães para o Julgado de Faria patrocinada por D. João I, que por carta de 14 de Outubro de 1409, doou aquela localidade a seu filho, D. Afonso, conde de Barcelos (mais tarde o 1º Duque de Bragança), ficando assim Fão a pertencer a esta Casa.
Muito provavelmente a família de João Vicente era das relações do Conde de Barcelos e ele próprio amigo ou conhecido de seu filho, o Conde de Ourém, D. Afonso, que fez várias viagens ao estrangeiro em representações diplomáticas, entre 1429 e 1458
O Conde de Ourém sendo, portanto, filho do Conde de Barcelos (1º Duque de Bragança) e de D. Brites Pereira, filha de D. Nuno Alvares Pereira, era neto de D. João I, pelo lado do pai e de D. Nuno, pelo da mãe.
Embora fosse educado em Chaves, sede na altura, da Casa de Bragança, nem por isso a sua educação mereceu menores cuidados; «decerto, contactou com os melhores mestres, pois pelo que se conhece é legítimo afirmar que foi um dos mais cultos da sua geração.» Teve assim, uma educação que ombreava com a dos filhos de D. João I, seus tios,- a ínclita Geração - que eram praticamente da sua idade.
Numa dessas viagens, a segunda que fez, teve Basileia como destino. Era nessa cidade que decorria o Concílio da Igreja Católica e o rei D. Duarte, seu tio, procurava aí obter autorizações especiais do Papa para os reis portugueses, para aos cavaleiros das Ordens de Avis e de Cristo e a bula de cruzada para a guerra em África.
A comitiva, que integrava altas figuras da Igreja e grandes letrados em direito canónico e civil, incluía o bispo-conde do Porto D. Antão Martins, saiu de Lisboa em 11 de Janeiro de 1436, fazendo a viagem por terra.
Dessa viagem foi feito um diário pormenorizado dos locais por onde passavam e as distâncias percorridas diariamente. Chegaram as Castela 5 dias depois. Atravessaram toda a península em 10 semanas, até ao Mediterrâneo. Entraram em  Barcelona onde foram muito bem recebidos e aí esperaram 6 semanas pelos elementos da realeza que vinham por mar, tempo aproveitado para contactos importantes que visavam apoios para a campanha de África que estava a ser preparada pelos infantes irmãos de D. Duarte: D. Henrique, D. Pedro e D. Fernando.
Seguiram depois para Itália, para o porto de Livorno, tendo, para o efeito, o conde e o bispo, juntamente com outras ilustres figuras, embarcado numa galé em 24 de Maio.
Alguns cavaleiros, porém, necessitavam de levar os seus cavalos e por isso tiveram que viajar mais para norte, até S. Fileu, porto onde embarcaram numa nau vinda de Lisboa, capitaneada pelo citado Abade de Fão.
A viagem, foi assim, feita separadamente, num mar perigoso, infestado de corsários, de inimigos e milhentos perigos, mas todos acabaram por passar discretamente, fazendo-se até passar por galegos.
No dia 22, partiram para Bolonha, onde foram recebidos com grande entusiasmo e quatro dias depois da chegada, o Papa recebeu-os.
É assim, pelo relato desta viagem, que chega até nós a referência a este importante personagem fangueiro, cuja família era de «estirpe» e da confiança do 1º Duque de Bragança, seus fiéis servidores, dos tais que ele punha a liderar nas terras das suas possessões. Veja-se o que um seu sucessor, embora mais tarde, o Duque D. Jaime, fez em Esposende para a expedição a Alcácer Quibir. Além dos «20 homens a pé» que recrutou, levou ainda a nata da fidalguia da terra, Gaspar de Barros da Costa e seu filho Gregório  (seu amigo pessoal), que morreu na batalha.
Este abade-navegante, tinha ainda a vantagem de ser letrado, o que, para além do respeito que o seu estatuto impunha, aliado a alguma coragem, servia na perfeição para integrar em lugar de responsabilidade uma empresa tão grandiosa como foi a viagem desta embaixada a Basileia para obter do Papa o que D. Duarte tanto almejava.
Eis pois, mais um fangueiro para a História de Fão e do nosso Concelho!  

Consultas:
-Ribeiro, Gonçalo Morais – Viagens do Conde de Ourém (1429-1458)
-Lusitânia Sacra, 2ª série, Tomo 13-14 (2001-2002).
- Barradas, Alexandra Leal, in Revista “Medievalista”, ano 2, nº 2, 2006 – FCSH- Instituto de Estudos Medievais- UNL

Esposende Março de 2015     PS. Por opção, o autor escreve segundo a antiga ortografia.

(Publicado no jornal digital "Esposende Acontece) em Maio de 2015)

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

….e  DE ESPOSENDE PARA O TABACO, OURO E PEDRAS PRECIOSAS
 António dos Santos Vilas Boas nasceu na Casa da Ribeira, uma das casas mais emblemáticas de Esposende  que se situava nesmo em frente ao local onde funciona o conhecido “café Vermelhinho” e que foi sacrificada para dar lugar à actual avenida  Marginal. Este edifício, que remontava ao tempo de D. João III, com quintal virado para o rio, foi a primeira casa onde se instalou a Guarda Fiscal.. 
António dos Santos Vilas Boas, nasceu aí, em 1 de Novembro de 1693. Era filho do Capitão de navios Manuel Ferreira Rego e de Maria de Fátima de Vilas Boas Ferreira; descendia, pelo ramo da mãe , de várias gerações que vieram de Azurara e Vila  do Conde, trabalhar para aqui, alguns deles como mestres construtores navais,
Apesar da varonia destes Vilas Boas, ser Ferreira, na geração seguinte passou para Faria Azamores, os mais antigos de Esposende, Porém, este ramo, privilegiou o apelido do Vilas Boas, e nunca o dexaram caír através de várias gerações que chegaram até aos nossos dias,
Foi baptizado na Matriz de Esposende, pelo Padre coadjutor Sebastião de Vilas Boas, seu parente, servindo de padrinhos João Martins Ferreira e sua enteada, Antónia, solteira.
António dos Santos Vilas Boas também muito cedo embarcou para o Brasil, onde foi proprietário de fazendas de tabaco e minerou, ouro e pedras preciosas, juntamente com seu primo Manuel Machado Carmona, também de Esposende, senhor de  engenhos de açúcar.
Obteve Carta de FSO (Familiar do Santo Ofício) em 22-12-1755, em cujo processo se diz tratar-se dum homem de negócios, solteiro, tendo as suas lavras de ouro e de tabaco e que vivia nas Minas, no Arraial das Figuras, na freguesia de Santo António de Jacobina, no arciprestado da Baía.
Era considerado pessoa de bom procedimento, vida e costumes, capaz de ser encarregado de negócios de importância e de segredo, Vivia limpa e abastadamente, minerando com seus escravos e também vendendo fazendas. Teria mais de 10.000 cruzados de cabedais; sabia ler e escrever e tinha 40 anos de idade.
Em 1.10.1749, ainda era solteiro e estava de regresso a Esposende, aonde foi padrinho, até 1675, de 6 bautizados. Entretanto em 1752, serviu como Vereador da Câmara de Esposende., Pouco depois, casou-se em Fão, ,em 15 de Junho de 1756, com Ana Maria do Sacramento de Freitas Cabral da Mina, muito mais nova que ele, filha de Manuel Freiras Cabral da Mina, natural da cidade da Guarda, e D.  Maria Antónia de Carvalho Pinheiro, de Fão. Deste casamento nasceram 7 filhos, sendo porventura o mais representativo o Capitão João Atanásio dos Santos Vilas Boas Faria Cabral, que foi Tabelião em Esposende Este
João Atanásio, que também nasceu na Casa da Ribeira, foi Tabelião em Esposende e foi nomeado Tenente Secretário do Regimento 21 de Linha e depois capitão do Exército, da Repartição do Estado Maior.
Em 1803 elaborou um mapa estatístico dos géneros nos armazéns dos portos de mar de Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Esposende;
Em 1809 foi enviado o a Espanha, a tratar com a junta dos meios de defesa possíveis, para travar o Marechal Soult.
vindas de Viana, conseguindo prender os oficiais e a guarnição Em 3 de Novembro de 1812, era capitão do mesmo regimento e ajudante do Marechal de Campo Champalimaud; foi Cavaleiro da Ordem Militar de Aviz e condecorado com a medalha da Realeza. Em 1821 foi nomeado Governador do Castelo de Vila do Conde e em Junho de 1823, assaltou o próprio forte quando este se encontrava ocupado pelas forças Constitucionais.
Por este acto foi julgado em Conselho de Guerra, realizado em Braga. Foi aí condenado à morte, pena subsumida por degredo e finalmente acabou preso por 2 anos, com residência fixa na fortaleza de Valença do Minho, onde veio a falecer em casa de seu filho José Marcelino, ficando sepultado no Mosteiro de Ganfei.
João Atanásio, que era um fervoroso absolutista, partidário de D. Miguel -, apoiou os seus dois filhos mais velhos na fuga para Espanha, donde retornaram fazendo parte das tropas do Marquês de Chaves, que apoiava D. Miguel. No período em que viveu em Esposende, participou com o Dr., José Joaquim de Faria e Andrade, o Dr, José António do Monte Fogaça , sargento mor Manuel Maciel Ferreira de Araújo e José Joaquim da Silva Pinto e Castro, nas sucessivas aclamações a D. Miguel, quer em Esposende, quer em Fão.

Fontes: -Digitarq /Lisboa/Porto/Braga
            -Web
            - Gerações da Fundação da Vila de Esposende.      

Esposende, Abril de 2015


Dois Ilustres aventureiros

….DAS MARINHAS PARA O OURO DO BRASIL
                                                                                             
Nasceu em Pinhote no dia 6 de Dezembro de 1716, filho de João Vieira Repincho – o Moço e de Mariana Monteiro de Barros, que haviam casado em Carapeços em 30 de Novembro de 1714. No dia 20 de mesmo mês foi baptizado com o nome de Manuel José, pelo padre João Gonçalves, sob autorização do então vigário das Marinhas Urbano de Faria Machado, tendo como padrinhos António Monteiro de Barros, casado com Antónia Barbosa de Faria, de Carapeços, Barcelos e Joana de Jesus Maria e José, solteira, filha do Tabelião Manuel Caminha de Morais e de Inês Coelho, da Vila de Esposende; serviu de testemunha ao acto o licenciado pela Universidade de Coimbra, Alexandre Vieira Repincho que veio a ser Provedor da Misericórdia de Esposende em 1726. Seu avô materno, Dr. Manuel Monteiro de Barros era Cavaleiro Fidalgo e médico da Câmara da Raínha e o paterno, tinha o mesmo nome que seu pai, João Vieira Repincho (o Velho) ; era das Marinhas e havia sido  Juíz de Fora em Melgaço em 1682.  
Manuel José Monteiro de Barros, de seu nome completo, pertencia à aristocracia minhota e como muitos outros, embarcou para o Brasil em 1761 com 45 anos, atraído pela mineração, fixando-se inicialmente na Baía. Mudou-se, depois, para Minas Gerais onde obteve a sesmaria de Galés de Cima, em S. João d’El Rei, Vila Rica, actual Ouro Preto, descobrindo aí grande lavra de ouro.
Foi Guarda Mor das minas de ouro de Vila Rica. ”Guarda Mor” era um dos títulos nobiliárquicos que servia como símbolo de poder político entre a elite e os grandes proprietários rurais. Muitos dos agraciados, eram descendentes directos da nobreza portuguesa e até da alta nobreza, especialmente as famílias chegadas nos primeiros séculos da colonização do Brasil.
Já com 50 anos, casou em 16 de Agosto de 1766, com Margarida Eufrásia da Cunha Matos, filha do Guarda Mor Alexandre da Cunha Matos, no Oratório de D. Antónia de Negreiros, em Passa-Dez, na freguesia de Nossa Senhora da Pilar, de Vila Rica.
Deste casamento nasceram nove filhos, dos quais duas mulheres, cuja numerosa descendência veio a integrar a chamada aristocracia rural cafeeira do séc. XIX.
Barões, condes, viscondes, militares e presidentes de províncias do Brasil Imperial, senadores e eclesiásticos, espalharam-se por Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e S. Paulo, transformando-se numa das famílias mais influentes, que atingiu o seu auge e opulência nos dois primeiros períodos do Brasil Imperial.
Manuel José Monteiro de Barros, morreu em 9 de Julho de 1789 e deixou testamento. Está sepultado na Igreja Mariz de Vila Rica, mas sete antes, em 24 de Junho de 1782, obtivera  alvará  de Cavaleiro Fidalgo, segundo o que consta no Registo Geral de Mercês de D. Maria I.
Como curiosidade refira-se que, de entre a descendência da sua numerosa prole, contam-se os actores José Carlos Monteiro de Barros (Diogo Vilela) e Letícia Spiller nossa conhecida das actuais novelas brasileiras; ambos têm as suas raízes que mergulham na à época remota do ciclo do ouro do Brasil e no ADN deste marinhense de Pinhote, que num dia , já muito distante, daqui partiu à aventura e foi bem sucedido  .  
(Publicado no jornal digital "Esposende Acontece)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O capitJoão Dias – benfeitor da Santa Casa da Misericórdia de Esposende
João Dias era natural de S. Cláudio de Curvos em cuja igreja foi baptizado pelo padre Francisco Alves do Lago, a dezanove de Junho de 1675. Filho de Frutuoso Dias e de Marta Francisca, teve como padrinho Domingos Dias Vasco. Casou com Antónia Francisca de Almeida, uma baiana de ascendência portuguesa com raízes em Penafiel, que morava na freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Camamu, em S. Salvador da Baía. Foi Familiar do Santo Ofício e teve um filho, Domingos Dias de Almeida, que também se habilitou a membro daquela Congregação em 15-09-1738.[i] Domingos morava perto, em Santa Vera Cruz, na ilha de Itaparica, local onde se verificou o último desembarque de escravos naquela região, já depois de o mesmo ter sido proibido. Nesse desembarque precipitado, houve muitos afogados e outros, já em terra, sucumbiram à fome e ao cansaço, depois de obrigados a correr para fugir das autoridades. De 500, apenas sobreviveram 285.[ii]
Os negócios de João Dias, também eles ligados ao tráfico de escravos, levaram-no a assentar arraiais na freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Senhor de largas posses, foi a partir daí que manteve estreita relação material e espiritual com a Santa Casa da Misericórdia de Esposende, a quem fez várias ofertas (esmolas),em troca da celebração de actos religiosos por suas intenções. João Dias aparece várias vezes referenciado nos livros da Instituição como Capitão, não se especificando se do mar, se de terra.
A primeira dádiva de João Dias à Santa Casa, foi um rico paramento confeccionado em Lisboa, para ser utilizado em ocasiões solenes, um Pontifical, pois, numa reunião do Cabido, havida em 24 de Julho de 1729, foi acordado que «era conveniente que viesse por terra, pelo correio, o Pontifical da cidade de Lisboa, que mandou fazer o Capitão João Dias, morador na cidade da Baía, por ser coisa de grande empenho e se temer que por mar, correria algum risco». A preocupação com o seu transporte, demonstra bem a importância e a qualidade da obra oferecida.
Passados quase dois anos, no dia 26 de Abril de 1732, na mesma sala, onde se encontravam reunidos o Provedor, os irmãos da Mesa e o Procurador de João Dias, foi aberta uma carta, em que este reclamava que não tinham sido mandadas dizer três missas de Natal por sua intenção e outras três, no mesmo dia, por intenção de sua mulher. A explicação foi dada, de pronto, ao Procurador e prometido que dali em diante, as ditas 6 missas «seriam ditas no dia de Natal, atendendo às benfeitorias que o capitão João Dias tem prestado a esta Casa». Na mesma carta, João Dias dizia ainda que o Provedor e mais Irmãos, lhe haviam mandado pedir “pau de jacarandá”, para se fazerem umas grades para a Capela do Senhor da Praça e juntamente «para um andor do Senhor dos Passos» mas que, na sua opinião, «era melhor fazerem-se na cidade da Baía para o que mandassem desta Santa Casa, as medidas para as ditas grades e andor» [iii]. E assim foi feito.
Muito pouco tempo depois, o capitão João Dias, confirmava, através de carta chegada na frota da Baía e aberta em 24 de Junho de 1732, que iria mandar “ uma grade de pau-preto para a Capela do Bom Jesus da Praça e mais seis varas para o pálio do mesmo pau”. Foi portador de tal carta o capitão João de Barros Ribeiro, que além do mencionado, ainda teria de entregar “uma dúzia de ramos de pena”, que completariam o desejo e a devoção do remetente, “logo ao depois da grade assentada”. Em troca desta benfeitoria, o capitão João Dias, pedia que lhe mandassem celebrar, “cinco capelas de Missas e quatro ofícios”.
Esta magnífica grade, uma requintada obra de arte da marcenaria daquele tempo é precisamente aquela que se encontra ainda hoje em frente da Capela do Senhor dos Mareantes, antigamente chamado “Bom Jesus da Praça”. Podemos, ao contemplá-la, dizer com segurança, que foi feita no Brasil, na Baía e que fez 281 anos, oficialmente, ontem, 24 de Junho, dia de S. João!
O andor, esse, chegou um pouco mais tarde. É uma acta da reunião do Cabido, de 8 de Dezembro de 1736, que nos diz que o capitão João Dias, «tinha remetido para esta Santa Casa, um andor de pau-brasil, com sua coberta de tela roxa e entretecida de ouro, com os seus ramos do mesmo ouro e com franja em rodas de ouro grandes» A carta dizia ainda, que este benfeitor enviara ainda mais seis mil e quatrocentos reis, que Lourenço Pereira, de Lisboa, devia remeter à Santa Casa para pagamento dos ornatos do referido andor. Não falava do seu custo, pois «queria lho aceitasse Nosso Senhor, por esmola e somente pedia em remuneração, que lhe mandassem dizer logo, quatro capelas de Missas: duas pelas almas de seus pais e parentes defuntos e duas pelas almas dos pais e parentes defuntos de sua companheira Antónia Francisca de Almeida.»[iv]
Não estou certo de que o actual andor do Senhor dos Passos, peça tão emblemática da Semana Santa, pelo menos para aqueles que o carregam na procissão de Quinta-feira Maior, seja o mesmo a que a acta de 8 de Dezembro de 1736 se refere. Para ter certezas, ter-se ia que fazer, no mínimo, um exame à madeira de que é construído e estudar a talha. Porém, um convencimento tenho e posso partilhá-lo: o estilo do andor é “D. João V” e, portanto, enquadrado na época faustosa contemporânea da descoberta do «ouro e das pedras preciosas» no Brasil
Se assim for, será mais uma extraordinária peça com 279 anos que vem enriquecer substancialmente o património cultural, histórico e material da nossa Santa Casa da Misericórdia, instituição marcante e a mais antiga do concelho que desde a sua fundação presta serviços relevantes às gerações que a ela têm recorrido ao longo dos séculos.
Mas, para além disto, a Igreja da Misericórdia tem mais, mas muito mais, para nos surpreender em termos de História!



[i] - ANTT (Digitarq) - Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações Incompletas, doc. 1292
[ii]  - Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil Local: Ilha de Itaparica – Pontinha/Vera Cruz – BA
[iii]  - AHSCME – Livro dos Acórdãos, pág. 92
[iv]  - AHSCME –  Livro dos Acórdãos, , pág. 99v e 100
(Publicado no jornal digital "Esposende Acontece, em 24 de Junho de 2015).

domingo, 13 de setembro de 2015


«O VINTE E UM» - Um aventureiro de Séc. XVII

                                                                                 
João Gonçalves (Belinho) nasceu pelos anos de 1600.

A sua família será originária de S. Pedro Fins, de Belinho, tal como outras que se estabeleceram em Esposende, adoptando o nome das freguesias donde eram originárias

Tinha ascendentes em Vila Chã e em 1598, seu pai, Álvaro Pires Belinho era irmão da Santa Casa. Ele próprio foi devoto irmão, contribuindo com generosas esmolas.

João Gonçalves Belinho, casou em Esposende, com Maria Fernandes de Faria, membro da influente família dos Farias, oriundos de Barcelos, parentes do célebre alcaide Gonçalo Nuno. Em 2 de Março de 1642, juntamente com sua mulher, foi testemunha notarial numa escritura de dote a Benta de Faria, viúva, para esta casar com Filipe Dias, capitão de navios. Este dote incluia uma parte de um navio que ela tinha a fabricar no estaleiro de Francisco Dias ou 40.000 reis de contado e tudo o mais que pertencia à dita viúva.

 João Gonçalves foi também padrinho em vários baptizados e casamentos na Matriz de Esposende e é citado no processo do Tribunal da Inquisição de Coimbra que decorreu entre 1641 e 43, relativo ao Padre Manuel de Barros Pereira, da Casa do Rêgo.

Nos próprios registos de Baptismos, João Gonçalves aparece com a alcunha de “vinte e um”.

Era um homem do mar. Ora era capitão ora era mestre de navios. Um aventureiro, um negociante, à procura de fortuna, tal como muitos outros conterrâneos do seu tempo.

Nessa altura, era comum, para além da partilha da propriedade do barco, os mercadores associarem-se e participarem em negócios que envolvessem contratos feitos em conjunto, não só sobre a embarcação, mas também sobre as mercadorias, o que de imediato, diminuía o risco.do capital investido.

Formavam-se assim autênticas companhias, «ad hoc», que facilitavam o movimento de capitais e permitiam aos mercadores alargar o seu raio de acção comercial 

É numa dessas situações que vamos encontrar o «Vinte e um» em Ponta Delgada, nos Açores, em 7 de Outubro de 1648

Juntamente com Domingos Vaz de Brito, João Soares Serra e Manuel Fernandes da Silva, João Gonçalves Belinho fez uma dessas «companhias» por conta da qual carregou o navio «S. Francisco e Nossa Srª dos Remédios», de que era o mestre e interveniente no negócio.

O navio estava no porto de Ponta Delgada e a sua prevista viagem correspondia ao chamado percurso triangular: Ponta Delgada – Cabo Verde – Espírito Santo (Brasil), transportando as mercadorias habituais nesta rota, como escravos, açúcar, couros, algodão, etc.

Dois dos mercadores desta «companhia», Domingos Vaz de Brito e João Soares Serra, ficaram em Ponta Delgada; os outros dois seguiam viagem com as mercadorias a bordo. 

Entre eles, foram trocadas procurações com amplos poderes de representação.

Porém, nada obrigava a que, após efectuada a viagem, o acordo continuasse a vigorar e a «companhia» a funcionar.

O carácter destas «companhias» ou «sociedades» era efémero, como prova o facto deste navio ter sido dado como vindo da Baía, sendo seu proprietário Manuel Fernandes da Silva.

No caso das Cartas de Frete, ambas as partes interessadas compareciam perante o Tabelião que era quem redigia o texto do Contrato.

No Porto onde habitualmente os nossos capitães amarravam, para fretar os seus navios aos negociantes daquela praça, as cartas de frete eram feitas nos Tabeliães da Rua das Taipas, ainda hoje existente Tal como eram feitas em Esposende, no tabelião local, a partir de meados do séc XVI..

Em 1666, no dia 8 de Junho, morreu João Gonçalves (Belinho) o «Vinte e um».

Estava preso em Lisboa, por não ter pago à Alfândega, uns direitos de seu navio. Foi enterrado na Igreja dê S. Julião., segundo as notícias trazidas pelo capitão Manuel Dias de Faria, que assistiu à sua morte.

A sua naturalidade levanta algumas dúvidas e ficou por esclarecer nas Inquirições do Santo Ofício, levadas a cabo em Esposende sobre os ascendentes de seu neto, o Capitão Manuel Fernandes de Faria, que obteve carta de Familiar em 1735.





                                                         

«O VINTE E UM» - Um aventureiro de Séc. XVII

                                                                                                                                                            

João Gonçalves (Belinho) nasceu pelos anos de 1600.

A sua família será originária de S. Pedro Fins, de Belinho, tal como outras que se estabeleceram em Esposende, adoptando o nome das freguesias donde eram originárias

Tinha ascendentes em Vila Chã e em 1598, seu pai, Álvaro Pires Belinho era irmão da Santa Casa. Ele próprio foi devoto irmão, contribuindo com generosas esmolas.

João Gonçalves Belinho, casou em Esposende, com Maria Fernandes de Faria, membro da influente família dos Farias, oriundos de Barcelos, parentes do célebre alcaide Gonçalo Nuno. Em 2 de Março de 1642, juntamente com sua mulher, foi testemunha notarial numa escritura de dote a Benta de Faria, viúva, para esta casar com Filipe Dias, capitão de navios. Este dote incluia uma parte de um navio que ela tinha a fabricar no estaleiro de Francisco Dias ou 40.000 reis de contado e tudo o mais que pertencia à dita viúva.

 João Gonçalves foi também padrinho em vários baptizados e casamentos na Matriz de Esposende e é citado no processo do Tribunal da Inquisição de Coimbra que decorreu entre 1641 e 43, relativo ao Padre Manuel de Barros Pereira, da Casa do Rêgo.

Nos próprios registos de Baptismos, João Gonçalves aparece com a alcunha de “vinte e um”.

Era um homem do mar. Ora era capitão ora era mestre de navios. Um aventureiro, um negociante, à procura de fortuna, tal como muitos outros conterrâneos do seu tempo.

Nessa altura, era comum, para além da partilha da propriedade do barco, os mercadores associarem-se e participarem em negócios que envolvessem contratos feitos em conjunto, não só sobre a embarcação, mas também sobre as mercadorias, o que de imediato, diminuía o risco.do capital investido.

Formavam-se assim autênticas companhias, «ad hoc», que facilitavam o movimento de capitais e permitiam aos mercadores alargar o seu raio de acção comercial 

É numa dessas situações que vamos encontrar o «Vinte e um» em Ponta Delgada, nos Açores, em 7 de Outubro de 1648

Juntamente com Domingos Vaz de Brito, João Soares Serra e Manuel Fernandes da Silva, João Gonçalves Belinho fez uma dessas «companhias» por conta da qual carregou o navio «S. Francisco e Nossa Srª dos Remédios», de que era o mestre e interveniente no negócio.

O navio estava no porto de Ponta Delgada e a sua prevista viagem correspondia ao chamado percurso triangular: Ponta Delgada – Cabo Verde – Espírito Santo (Brasil), transportando as mercadorias habituais nesta rota, como escravos, açúcar, couros, algodão, etc.

Dois dos mercadores desta «companhia», Domingos Vaz de Brito e João Soares Serra, ficaram em Ponta Delgada; os outros dois seguiam viagem com as mercadorias a bordo. 

Entre eles, foram trocadas procurações com amplos poderes de representação.

Porém, nada obrigava a que, após efectuada a viagem, o acordo continuasse a vigorar e a «companhia» a funcionar.

O carácter destas «companhias» ou «sociedades» era efémero, como prova o facto deste navio ter sido dado como vindo da Baía, sendo seu proprietário Manuel Fernandes da Silva.

No caso das Cartas de Frete, ambas as partes interessadas compareciam perante o Tabelião que era quem redigia o texto do Contrato.

No Porto onde habitualmente os nossos capitães amarravam, para fretar os seus navios aos negociantes daquela praça, as cartas de frete eram feitas nos Tabeliães da Rua das Taipas, ainda hoje existente Tal como eram lavradas  em Esposende, no tabelião local, a partir de meados do séc XVI..

Em 1666, no dia 8 de Junho, morreu João Gonçalves (Belinho) o «Vinte e um».

Estava preso em Lisboa, por não ter pago à Alfândega, uns direitos de seu navio. Foi enterrado na Igreja dê S. Julião., segundo as notícias trazidas pelo capitão Manuel Dias de Faria, que assistiu à sua morte.

A sua naturalidade levanta algumas dúvidas e ficou por esclarecer nas Inquirições do Santo Ofício, levadas a cabo em Esposende sobre os ascendentes de seu neto, o Capitão Manuel Fernandes de Faria, que obteve carta de Familiar em 1735.



 (Publicado no "Farol de Esposende" em Outubro de 2013)